segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Ensaio sobre a Lucidez




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Contracapa:
"... falemos abertamente sobre o que foi a nossa vida, se era vida aquilo, durante o tempo em que estivemos cegos, que os jornais recordem, que os escritores escrevam, que a televisão mostre as imagens da cidade tomadas depois de termos recuperado a visão, convençam-se as pessoas a falar dos males de toda a espécie que tiveram de suportar, falem dos mortos, dos desaparecidos, das ruínas, dos incêndios, do lixo, da podridão, e depois, quando tivermos arrancado os farrapos de falsa normalidade com que temos andado a querer tapar a chaga, diremos que a cegueira desses dias regressou sob uma nova forma, chamaremos a atenção da gente para o paralelo entre a brancura da cegueira de há quatro anos e o voto branco de agora..."



Orelhas: Numa manhã de votação que parecia como todas as outras, na capital de um país imaginário, os funcionários de uma das seções eleitorais se deparam com uma situação insólita, que mais tarde, durante as apurações, se confirmaria de maneira espantosa. Aquele não seria um pleito como todos os outros, com a tradicional divisão dos votos entre os partidos "da direita", "do centro" e "da esquerda"; o que se verifica é uma opção radical pelo voto em branco. Usando o símbolo máximo da democracia - o voto -, os eleitores parecem questionar profundamente o sistema de sucessão governamental em seu país.


É desse "corte de energia cívica" que fala Ensaio sobre a lucidez. Não apenas no título José Saramago se remete ao seu célebre Ensaio sobre a cegueira: também na trama ele retoma personagens e situações, insistindo em algumas das questões éticas e políticas abordadas no romance de 1995. Ao narrar as providências de governo, polícia e imprensa para entender as razões da "epidemia branca" - ações estas que levam rapidamente a um devaneio autoritário -, o autor faz uma alegoria dos rituais da democracia e da fragilidade do sistema político e das instituições que nos governam. A lucidez, aqui, é aquilo que se opõe à loucura, ao desvario, à demência; não se trata, portanto, de mera metáfora ou ironia.


O que se propõe não é a substituição da democracia por um sistema alternativo, mas o seu permanente questionamento. É pela via da ficção que José Saramago entrevê uma saída para esse impasse - pois é a potência simbólica da literatura, território em que reflexão, humor, arte e política se entrosam, que por fim se revela capaz de vencer a mediocridade, a ignorância e o medo.


Nascido na província portuguesa do Ribatejo, em 1922, José Saramago é romancista, poeta e dramaturgo. Com a publicação do romance Levantado do chão, em 1980, ganhou renome internacional. A Companhia das Letras já publicou vinte livros de sua autoria, entre romances, diários, conto e literatura infantil. Em 1998, Saramago recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.