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Contracapa: Amyr Klink é sempre
surpreendente. Depois de cruzar o Atlântico em um minúsculo barco a remo -
travessia relatada em Cem dias entre o céu e o mar -, lançou-se em outro projeto
assombroso: passar um ano inteiro na Antártica, dos quais seis meses
imobilizado no gelo, em companhia apenas de pinguins e leões-marinhos. Para
realizar esse sonho, no final de 1989 partiu no veleiro Paratii para uma viagem que
iria durar 22 meses. Navegando solitário por mais de 50 mil quilômetros,
alcançou não apenas o continente gelado do Sul, mas também as geleiras do pólo
Norte. E trouxe na bagagem dois punhados de pedrinhas, um da Antártica e outro
do Ártico: símbolos da misteriosa matéria de que são feitos os mais belos e
ousados sonhos.
Orelhas: Bem-vindo a bordo. Você vai
começar a fazer uma viagem inesquecível. Aliás, duas viagens. Uma, calma,
saborosa, sem sobressaltos ou tédio. A outra, plena de aventuras, repleta de
emoções, rumo ao desconhecido.
Ambas têm como comandante uma figura rara. Alguém capaz de navegar com
rara competência pelo mundo das letras e pelos oceanos do mundo. Amyr Klink é
mesmo um brasileiro notável. Como poucos sabe viver experiências incomuns, o
que por si só justifica uma existência. Além disso, é também extremamente
talentoso para contar sua epopéia.
A
primeira viagem você faz ao saborear este Paratii:
entre dois pólos. A segunda
será feita dentro do barco, sem enjoar.
Quinhentos anos depois que os europeus e suas caravelas chegaram à
América, um brasileiro relata a expedição que o levou à gelada Antártica, tendo
como companhia apenas os albatrozes e os pinguins. E dormindo só 45 minutos por
vez, o tempo exato de cada período de um jogo de futebol.
O
navegante solitário, livre por natureza, percorreu milhas e milhas para...
ficar preso. Preso pelo gelo e por opção. Solto para sonhar diante da
imensidão, entre o céu e o mar, o sol e as estrelas. Treze meses absolutamente
ímpares nos quais nunca um dia foi igual ao outro, no continente branco que é
multicolorido, tão árido e tão vivo simultaneamente.
Amyr Klink se encontra no mar. O nosso encontro é no livro. Amyr no mar é
comosereio, meio homem,
meio peixe. No livro é um sábio, poeta das melhores histórias do século XX,
quando o homem domou o espaço sem perder o fascínio que as ondas não param de
despertar.
Icebergs, tempestades, leões-marinhos, dias longos, noites curtas,
reflexões sem fim. Visitas humanas aqui e ali, mais ali do que aqui.
Cristóvão Colombo há de desculpar. Mas é inegável a vantagem de Amyr
Klink. Mais que um continente, Amyr descobre a vida e não causa polêmicas. Ele
é uma unanimidade como navegador e escritor.
Juca Kfouri
Amyr Klink nasceu na
cidade de São Paulo, a 25 de setembro de 1955. Ali fez seus estudos e formou-se
em economia. Navega desde criança e participou de inúmeras regatas e
travessias. Também é autor de Cem
dias entre céu e mar, publicado pela José Olympio Editora em 1985.